sábado, 28 de fevereiro de 2009

Férias 1996 - Açores - S.Miguel - A Minha Terra V


Depois do almoço, a chuva começou a dar sinais que se ia embora, nós também , só que eu não sabia para onde. De regresso a Ribeira Grande, o Luís meteu o carro por caminhos em terra batida, julgo que são caminhos onde passa o rallye de S. Miguel, adorei, é desta forma que se fica realmente a conhecer o país real, neste caso a ilha. Fomos a uma zona de caldeiras, mais uma manifestação evidente do vulcanismo . A água a ferver á superfície, é impressionante, este tipo de coisas não dá para descrever é preciso sentir. Local agradável este das caldeiras, estavam a recuperar uma casa, as termas estavam fechadas, ainda tentamos espreitar para ver alguma coisa. O tempo dava sinais de chuva a qualquer momento, não importava , não era a chuva que me ia estragar esta semana. Depois das Caldeiras da Ribeira Grande, subimos, dava a impressão que íamos ter um encontro com as nuvens, uma rua demasiado estreita, com verdejantes pastos. Não chegamos ao ponto mais elevado, não sei se faltava muito, começamos a descer. Se muito tínhamos subido, muito descíamos, bom local para uns suicídios. Nesta altura a conversa andava em torno desse tema, julgo ter sido este o local escolhido por um ex. piloto para terminar a sua existência. Durante a descida vimos um bocado da estrada que também se deve ter “suicidado” , pelo menos não estava lá , se a rua já era estreita no seu “estado” normal , com meia faixa era um pouco assustador, mas lá chegamos . Chegamos a uma zona que se chama Lombadas, existe uma água engarrafada com o mesmo nome, estive no local onde é engarrafada. Bebi um pouco dessa água. Curiosamente a água tem o nome de Lombadas, mas a ribeira que por ali passa tem o nome de Ribeira Grande. Como não podia deixar de ser o proprietário é o Sousa Cintra.
Como o dia era para a aventura, começamos a caminhar junto á margem da ribeira e a entrar para o meio das montanhas, o cenário é indescritível, o pior foi quando escorreguei, o resultado da escorregadela deu nas sapatilhas e calças molhadas. Como não gosto de andar com o calçado molhado, resolvi tirar as ditas sapatilhas, mas sem antes me certificar se no local não existiam cobras. Com a confirmação do Luís de que tal animal não existe por aquelas paragens, eu fiquei descansado, continuamos a andar. Por mais de uma vez foi preciso atravessar a ribeira , tudo bem, a água até nem estava fria, estava agradável, mas não tomei banho, o caudal não permitia, a vontade também não.
Quando chegamos á queda de água, fiquei com pena de não ter o tripé para a máquina fotográfica. O Luís tirou-me algumas fotos, mais parecia um explorador( dos fracos) , saco da máquina ao ombro, sapatilhas amarradas ao saco e calças dobradas. Numa outra oportunidade gostaria de continuar o caminho. Pouco tempo nos demoramos por aqui, foi pena, mas o tempo não permitia , a chuva dava indícios que ia voltar. Voltou e em força, o carro estava longe, eram quase 18horas, havia que aguentar com a chuva, para mim não era dramático, já estava molhado por baixo, ficava completo, foi um dia em cheio no que aos banhos diz respeito. O Luís estava preocupado com toda a situação, quase se sentia comprometido por me ter levado para ali, e ter começado a chover, mas eu queria lá saber da chuva, dificilmente esquecerei tal dia, são estas coisas que ficam gravadas para sempre e pela positiva.
Quando chegamos ao carro, eu tinha deixado o vidro do meu lado aberto, o banco estava um pouco molhado.
O piso estava um pouco perigoso, mas tínhamos que ir para casa, a subida era íngreme, o carro subiu. Á medida que íamos subindo o nevoeiro começava a ser muito , pouco se via. Quando chegamos á Ribeira Grande, não paramos, fomos a Rabo de Peixe. Para fazer um passeio com o Luís é necessário um gravador para registar tudo o que ele diz, ele fala muito em acontecimentos históricos, muitas vezes nas origens das coisas, etc., são passeios com uma enorme carga cultural, é impossível eu assimilar tudo. Rabo de Peixe é ou foi um dos locais mais pobres da ilha, tem pesca artesanal, parece que é ou foi um importante porto pesqueiro da ilha. Seguimos o nosso percurso, sempre pela estrada do lado norte da ilha e junto á costa.
Chegamos a um local que fez história no tempo da caça á baleia , Capelas, paramos junto a um monumento que ergueram, em homenagem ao baleeiro, tirei umas fotos, descalço e tudo , no fundo fica para recordar o momento. A camisa ainda estava colada ao corpo. A partir daqui fomos direitos para Ponta Delgada, durante todo o dia conversamos muito, gostos pessoais, projectos, etc. É bom . Estava a ser uma semana , fabulosa na minha vida, sentia-me liberto de tudo, nestes curtos dias que já tinham passado, acho que me consegui reencontrar comigo mesmo.
Antes de chegarmos a Ponta Delgada, paramos junto ao local onde está colocado o posto de recepção via satélite da televisão, tirei uma fotografia, o Luís até disse que parecíamos espiões russos.
Chegamos a casa, ainda estava molhado, troquei de roupa , tinha sido um dia cansativo mas extraordinário, é deste tipo de dias que eu gosto. Após o jantar fomos até ao escritório do Luís, tem uma vasta biblioteca, aproveitei para começar a ler um livro sobre o Ayrton Senna da Silva. Ouvi histórias dos tempos da faculdade do Luis e da Ana Maria, assim como vi fotos dos cortejos da queima das fitas e da entrega dos “canudos”. O tempo passava depressa, a Ana foi dormir eu fiquei com o Luís na conversa , falou-se de aventuras, viagens , música, enfim tanta coisa.
O Luís ofereceu-me um objecto feito em osso de baleia. Quando as conversas estão animadas, o tempo voa. Foi assim desta vez, Depois de muito falarmos, do Luís contar as passagens dele pela Policia Judiciária e ouvir um pouco do disco da Cesária Évora, chegou a hora de descansar um bocado. Terminou um dos meus gloriosos dias , ficará eternamente gravado na minha memória. No entanto não posso dizer que foi melhor ou pior do que os dois dias passados com a Paula, só que não há dois dias iguais, com a Paula segui-se um pouco o programa que se tinha delineado, com o Luís foi diferente. O dia seguinte iria ser passado na cidade, pela primeira vez desde que aqui cheguei ia andar sozinho.

1 comentário:

  1. Pois com o Luís conseguiste ver muita coisa!??!!?!
    Muito bom, realmente deve valer a pena a visita.
    Claro que a própria natureza também é magnifica.

    ResponderEliminar