sábado, 14 de março de 2009

Serra da Estrela - Em Busca da Neve - Cap 1


Sábado, 22 de Fevereiro de 1997.

Acordei eram 6 horas. Era muito cedo, deixei-me estar mais um pouco na cama. Ás 6h30m. decidi que era hora de levantar. Tomei banho, arranjei as coisas, e estava pronto a partir.

O Fernando apareceu á hora combinada, 7h15m, parece um relógio suíço. Passamos por casa do Adélio, ele não ia, mas o Fernando foi lá buscar ou entregar alguma coisa. Quando chegamos a casa do António Augusto, já ele estava á nossa espera mais o Rui Brites, faltava o Paulo. Decidimos esperar um pouco por ele, enquanto isso apareceu um mendigo a pedir dinheiro para um café, era um homem novo, muito magro, com uma enorme barba e cheirava mal. O António arranjou 100 escudos, mas o homem não foi logo embora, ficou junto do pessoal, nós não lhe ligávamos nada , então ele passado um pouco decidiu ir até ao café. Continuamos a aguardar que o Paulo chegasse, faltavam cerca de 10 minutos para as 8horas, quando ele chegou com o carro do pai, um Alfa Romeo. Partimos de imediato.

No centro da Maia junto á câmara municipal comprei o Jornal de Noticias e o Jogo, como era sábado era dia de mais um CD.

Já estávamos atrasados, não era um atraso significativo, no entanto era cerca de meia hora.

O transito na auto estrada já tinha um volume considerável, mesmo atendendo que era sábado.

A viagem estava a decorrer normalmente, ás 8h31m, chegámos á estação de serviço de Antuã, era a última antes de sairmos da auto estrada. Só o Paulo é que foi tomar café, mais ninguém abandonou a zona da carrinha. O Paulo demorou um pouco, estava a contribuir e de que maneira para o nosso atraso. Quando regressou, levou um pouco de gozo de Fernando, o que aliás vinha acontecendo desde que partimos. Por aqui apareceu um carro que indicava ir para a neve, trazia em cima do carro uns pares de Skis.

Ia toda a gente na conversa, de tal forma que por momentos ficamos na dúvida se já tínhamos passado no local onde deveríamos sair, mas não ainda não tínhamos passado.

Entramos na IP5, o panorama era completamente diferente do que tínhamos encontrado na nossa última visita, desta vez o dia estava quente. As diferenças começaram a ser bem visíveis. Quanto mais nos íamos interiorizando, mais certezas tínhamos que desta vez íamos poder subir á torre.

Como de costume em todas as viagens o Fernando começou com o vastíssimo reportório de anedotas, muitas já minhas conhecidas, mas isso permite que as viagens sejam sempre animadas.

O caminho que seguíamos era exactamente o mesmo que tínhamos feito na nossa última viagem á serra, desta vez não estávamos preocupados com as correntes para a neve, não paramos em nenhum posto de abastecimento, só paramos no Intermarche de Mangualde. Fomos tomar o pequeno almoço, comprar pão e comprei uma garrafa de espumante Murganheira. Aproveitei também para levantar algum dinheiro, o que eu levava talvez não chegasse.

Partimos, destino Gouveia. Em Mangualde tivemos que fazer um desvio, um pouco complicado para quem não conhece o caminho, não vimos motivo para o desvio, mas como tinha placas indicativas apenas nos limitamos a seguir as precárias indicações.

Ás 10h00m. chegamos a Gouveia, sinal de neve só alguns vestígios nas montanhas e pouca coisa. Era uma diferença abismal, enquanto da outra vez tínhamos apanhado imensa neve pelo caminho, desta vez estava tudo limpo, estávamos em Gouveia e nada de neve.

Estacionamos a carrinha no parque em frente ao mercado, o Fernando ia á frente do grupo a falar e dirigia-se para o mercado, eu e o António até nos interrogamos sobre o que iria o Fernando fazer ali, o Fernando só se apercebeu disso quando já estava dentro do mercado, como nada íamos fazer ali, saímos. Fomos em direcção ao que eu chamo o centro de Gouveia, que é a zona onde fica a câmara municipal. Junto a uma praça de taxis, vimos uma placa que indicava um miradouro, Miradouro do Paixotão, fomos ver, ainda era cedo para o almoço, tínhamos que nos entreter com alguma coisa. Subimos a imensa escadaria, escadaria íngreme e irregular, de tal forma que quando chegamos ao cimo da dita estávamos cansadíssimos e desiludidos com o miradouro. A Vista não é nada de mais, tem é um jardim, mas também isso nada tem de excepcional a não ser umas placas em pedra com alguns versos, alguns deles extremamente belos.

Começamos a descer mas não pelo sítio por onde subimos, escolhemos um local bem mais acessível, é uma zona deveras agradável , várias placas com versos, espalhadas, fotografei todas as que vi, no entanto mais haveria espalhadas que eu não vi. Ao fundo do jardim e no fim da descida tem uma casa que acaba por fazer parte do jardim, que é um museu de arte sacra e também julgo que tem o museu etnográfico de Gouveia. O jardim do museu está bem tratado, nós entramos no jardim mas não estávamos a pensar visitar o museu. O António ia na frente e foi até junto da porta, o guarda do museu convidou o pessoal a entrar, era chato nesta altura do campeonato não entrar, nem que fosse para uma rapidíssima visita. Assim fizemos, mas sem dar grande importância, nem fazíamos perguntas. Como ninguém perguntava nada , o homem tomou a iniciativa e quem respondeu foi o Paulo, o resto do grupo desmarcou-se de imediato. Com o Paulo já cravado, vimos aquilo muito rápido, só vimos a parte da arte sacra, tinha documentos muito interessantes e com um valor histórico incalculável.

Aquilo era coisa para demorar mais tempo do que nós desejávamos, daí que todos se piraram, excluindo o Paulo e o Rui Brites, esses como andavam a acompanhar o homem não tiveram hipótese. Visitas daquele tipo devem ser feitas com calma e tempo, porque tem coisas de muito interesse e convém ouvir o que o homem diz sobre tudo aquilo, porque um pouco da nossa história está ali. Estávamos nós junto á câmara municipal quando nos apareceu o Rui e o Paulo.

Estava a chegar a hora de ir para o restaurante, saímos de Gouveia e fomos para uma aldeia que faz parte do conselho mas que fica um pouco afastada da cidade, Melo de sua graça. O restaurante tem um nome sugestivo, mas não para um grupo como o nosso que era constituído só por homens, chama-se Fonte dos Namorados, no mínimo é um nome curioso.

Era o mesmo local onde comprei um queijo da serra na minha última passagem por estas terras, restaurante pequeno, só com uma meia dúzia de mesas, mas acolhedor, o que julgo ser norma por estes lados. Não foi difícil arranjar mesa visto o restaurante ainda estar vazio, nem meio dia era. Escolhemos uma mesa que dava perfeitamente para os cinco. Estávamos em amena cavaqueira quando entraram dois velhotes no restaurante e ficaram a olhar para a nossa mesa, um deles rapidamente explicou o motivo. Segundo ele, aquela era a mesa que eles costumavam ocupar sempre que ali iam, e pelo que ele falou era com alguma frequência. Ficamos a saber que era o padre da aldeia, era uma pessoa simpática e falava de uma forma que cativa as pessoas. Mas tinha que escolher outra mesa, aquela já não dava.

A nossa mesa começou a ser “ocupada”, o empregado ,como entradas, colocou na nossa mesa umas moelas grelhadas na telha, vinham mesmo numa telha, até queimava. Junto com as moelas também tinha chouriço. Estava bom mas não enchia. O vinho branco era muito bom, de tal forma que ainda antes de começar-mos a comer já sentia algumas dores de cabeça, já tinha bebido demasiado vinho para o que tinha comido. Começou a vir aquilo que tínhamos pedido, primeiro vitela, depois chanfana de cabrito e finalmente o javali, fiquei cheio. Tudo isto acompanhado pelo vinho e muito pão. No fim, na hora da sobremesa eu não ia pedir nada mas eles aconselharam-me doce de abóbora, pedi, tentei comer só que achei aquilo demasiado doce, deixei quase tudo. Para terminar veio café para todos, inclusivamente para mim, é raro tomar café. Junto com o café o empregado trouxe para a mesa umas quatro garrafas, com diversas bebidas. Uma garrafa tinha uma escada lá dentro, outra com um lagarto, claro que desta última eu não bebia nada, bebi de uma outra garrafa, nem era mau, só que não dava para abusar. Estava terminada a hora da refeição, estávamos ansiosos por partir para a neve. Antes de partir ainda fizemos umas partidas de matrecos, no restaurante, não era nada barato, 100$00 cada partida, eu não joguei, como sobrava um, fiquei de fora.

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