quinta-feira, 26 de março de 2009

Tossa De Mar - Encontros e Desencontros

Sexta Feira, 1 de Agosto de 1997.

Levantei-me um pouco mais cedo que o costume, tinha uma manhã de trabalho à minha espera. Como era inicio de mês, tinha que tirar a listagem dos telefones, tinha decidido fazer isso antes de ir de férias. Como acontece sempre nestas ocasiões em que o tempo é pouco, apareceram vários problemas, alguns deixei por resolver após férias, também não era muito tempo, era apenas uma semana. Estava um pouco nervoso com a viagem, queria estar em Barcelona no sábado, não sabia onde iria dormir esta noite.

Quando chegou a hora para o almoço, saí apressado, tinha que passar por casa para almoçar qualquer coisa e pegar nos sacos.

Em casa estavam os miúdos todos , fiquei satisfeito por poder despedir deles, inclusivamente andei com a Mariana ao colo, estava perdida de sono. Pouco passava das 13h45m. quando o Miranda chegou a minha casa, a essa hora já o João Pedro e a Mariana estavam a dormir, o Miguel veio até ao portão ver-nos partir.

Partimos, o carro marcava 55735km. Passamos junto à empresa e fomos apanhar a auto estrada em Ermesinde, seguimos na direcção de Amarante. Um pouco depois de Valongo fomos ultrapassados por um carro que julgo ser um Fiat 124, aquilo já não existe, o homem já de uma certa idade levava o carro nos limites, e parecia não querer sair da faixa mais à esquerda, quando nos lembramos de ultrapassar, foi preciso o Miranda dar sinais de luzes mais do que uma vez .

O Miranda falava da vida que tem levado nestes últimos dias, eu apenas me limitava a ouvir, depois da auto estrada entramos na IP4. Quando estávamos próximos de Vila Real o tempo começou a ficar um pouco esquisito, algumas nuvens um pouco escuras, estragavam o magnifico azul do céu. Pouco depois tudo voltou à normalidade, estava era muito calor. Passamos ao largo de Mirandela, falou-se na Teresa no doutor no Nani, enfim no pessoal conhecido daquelas terras.

Comecei a ficar cheio de sede, nada tinha levado para beber só para comer.

Quando estávamos próximo de Bragança os carros que circulavam em sentido contrário, davam sinais de luzes, aviso de policia na estrada, como não íamos a exceder a velocidade, continuamos no nosso ritmo, mas tivemos mesmo que reduzir a velocidade, é que tinha havido um acidente na estrada, estava lá a policia e os bombeiros, um carro na berma todo queimado, feridos ou mortos não sei se houve, era o primeiro acidente que via na estrada durante a viagem, e estava no inicio, eram 15h45m.

Chegamos a Bragança às 16h10m., achamos que o melhor seria meter gasóleo, não fosse não haver nada em Espanha logo nos primeiros Km., o depósito estava na reserva. Entramos na cidade, estava muito calor, e eu cheio de sede. Não víamos nenhum posto de abastecimento, mas finalmente lá apareceu um da Galp. Enchemos o depósito. Enquanto metiam gasóleo no carro eu fui a uma máquina de bebidas e comprei uma lata de Fanta, estava fresquinha, soube bem, para acompanhar a Fanta comi um lanche que tinha levado. O Miranda também comeu e bebeu, só que virou a lata de Trina quase toda. Tudo isto se passou ainda não tínhamos abandonado Bragança. Inclusivamente paramos para meter um pano debaixo do tapete, o Miranda estava preocupado que afectasse o leitor de CD, mas não havia motivo para preocupação, o que tinha caído não dava para chegar ao aparelho.

Retomamos a viagem, as placa que indicavam Espanha não serviam para nós, indicavam um caminho para Zamora, não era por ali que queríamos ir, tomamos a direcção de Portelo. Não podíamos andar à vontade, tínhamos um jipe da G.N.R. colado na nossa traseira e o Miranda sem o cinto de segurança. A paisagem é muito bonita, passamos junto a um parque natural que julgo chamar-se Montesinho. Passamos junto a um riacho de águas transparentes, convidavam a um banho, infelizmente não dava, tínhamos muito para andar.

Abandonamos a nossa pátria e entramos em terras de nuestros hermanos, logo que entramos em terras espanholas, vimos uma enorme placa com informação sobre as velocidades permitidas em Espanha. A paisagem começou aos poucos a mudar, passamos por uma zona montanhosa com uma vegetação rasteira mas muito verde, parecia que os montes estavam pintados de verde, era bonito, a estrada era estreita, com bom piso e contornava aqueles montes. Passamos numa aldeia engraçada, pelo tipo de habitação ali no Inverno deve nevar com intensidade, os telhados tinham um enorme declive, devia ser por causa da neve.

Chegamos a Puebla de Sanabria, já o relógio marcava 17h15m. , hora lusitana, ali era mais uma hora. O tipo de construção é engraçado, quase todas as casas tinham varandas em madeira. Por ali já se via algum movimento, já se viam algumas esplanadas. Um pouco mais à frente passamos junto a um rio, ali estava bastante pessoal, era uma zona muito bem arranjada e convidativa a passar um pouco de tempo, numa outra oportunidade, desta vez era impossível e estava a ficar um pouco tarde. Logo à frente apanhamos a estrada para Benavente, as placas indicavam 82 Km. , o movimento era um pouco intenso, felizmente deu para andar em bom ritmo. Chegados à periferia de Benavente, apanhamos uma via rápida até Tordesillas.

Parecia que estávamos no Alentejo, imensas planícies e tudo muito amarelo. Já tínhamos alguns km. quando passamos por novo acidente, tal como o outro não afectava o transito e também era na outra faixa de rodagem, este não incendiou, mas também ficou todo destruído, tinha capotado, a policia ainda lá estava. Na nossa faixa de rodagem voltamos a ver policia, estava junto a um carro, alguma coisa se tinha passado. Fiquei um pouco receoso, o aspecto da policia não é agradável, talvez pelo verde das fardas, e a nossa velocidade era superior à permitida, não queira nada levar com uma multa.

Já com Tordesillas à vista entramos na via rápida, ou como dizem eles, na auto via para Valladolid. Voltou a aumentar o volume de tráfego, até já víamos carros e camionetas portuguesas, não muitos mas já se viam alguns.

Entramos em Valladolid eram 19 horas, não ia dar para muito mais. Julgo que andamos um pouco perdidos, passamos por uma zona habitacional um pouco fantasma, grande parte está em construção. Atravessamos a cidade, fomos para um pólo industrial, mas aqui já seguíamos as placas que indicavam Sória.

Decidimos tentar pelo menos chegar a Aranda de Duero, ficava entre a cidade em que estávamos e Sória. Como sempre em Espanha o piso nas estradas está em bom estado, o movimento era pouco, dava para pisar o risco quanto à velocidade, assim onde a velocidade era 90 nós íamos a 120/130 .

Desde Valladolid, recordei a viagem a Viena, tinha feito o caminho que estava a fazer neste momento. Alguns Km. depois passamos num local que desde essa célebre viagem nunca mais esqueci por vários motivos, um deles, é que tínhamos parado para jantar, tipo piquenique, e ainda jogamos a bola com uns miúdos, depois devido ao nome, chama-se Peñafiel, faz lembrar uma terra que me diz alguma coisa.

Um pouco à frente, julgo que ainda pertence a Peñafiel, apesar de ter a placa com o nome da povoação a dizer Haza, vi um castelo que se fundia com a paisagem, apesar de estar no cimo de um monte totalmente desprovido de vegetação. Fotografei, era a minha primeira foto das férias.

Estávamos a “devorar” a estrada de tal forma que ainda pensamos não ficar em Aranda de Duero, e tentar chegar a Sória, esse pensamento rapidamente passou à história, era melhor ficar mesmo por Aranda, Aranda onde chegamos pouco tempo depois. Aquilo já é uma cidade, mas muito pequena, levando em linha de conta as cidades espanholas, em Portugal já seria qualquer coisa.

Logo à entrada vimos um hotel, seria uma alternativa, no entanto entramos na cidade, passamos sobre o Duero como dizem eles, nós simplesmente Douro, estava barrento e era estreito ali, nada tem a ver com as dimensões que atinge em Portugal.

Chegados ao local que julgo ser o centro vimos um outro hotel, Julia de seu nome, tinha bom aspecto, decidimos ir ver se tinha quartos e o respectivo preço, pensávamos ser caro, afinal tinha bom aspecto e era de 3 estrelas. Como sempre o Miranda ficou no carro e lá fui eu perguntar se tinha “habitaciones” e quanto valia, fiquei surpreendido, era barato, 6 300 pesetas, um quarto “doble” com banho. Fiz a reserva e disse ao homem que ia buscar os sacos. O Miranda estava com dificuldades para estacionar, entrei no carro e demos mais uma volta, até que fomos para uma rua estreitinha que tinha em frente ao hotel, também tinha um pequeno parque de estacionamento, mas esse estava cheio. Arranjamos um lugar bem bom, era o único disponível no momento .

Estávamos nós a retirar os sacos da mala do carro, quando passaram a pé junto a nós duas raparigas, bonitas e com bom corpo, sorriram, mal chegamos e já prometia. O pijaminha do Miranda ainda estava a retirar coisas da mala quando elas voltaram a passar, só que desta vez de jipe, voltaram a sorrir e acenaram, foi então que eu vi no jipe delas “Aranda de Duero Burgos”, ora Burgos já é país basco, deixou-me intrigado e com pena de elas se irem embora. Nós que queríamos fugir ao país basco, estávamos numa zona que já está ligada aos gajos, não percebo nada daquilo.

Fomos para o hotel, quando subi à recepção que ficava no 1º andar, já era uma mulher na recepção, fizemos a marcação do quarto, ficamos com o 412. Deixei o bilhete de identidade na recepção e subimos.

O quarto era jeitoso, ficava virado para a frente, tinha televisão e uma casa de banho jeitosa. Tomamos um banho retemperador, já passava das 21 horas quando descemos, a recepcionista era uma mulher na casa dos 50 anos mas muito simpática. O hotel tinha restaurante mas aquela hora já não servia nada, então a mulher aconselhou-nos um restaurante que pertencia ao hotel e que fechava tarde. Fomos até lá. Quando nos preparávamos para entrar no restaurante reparamos que o serviço era muito personalizado, o empregado é que servia, etc., etc., como nenhum de nós gosta daquele ambiente, não entramos mais, fomos procurar outro, os preços nem eram elevados, só que o ambiente era muito selecto.

Eu estava sem pesetas, para não ter situações de entrar num restaurante e não aceitar cartões, fui levantar dez mil pesetas, depois disso fomos a um restaurante ali perto, quase em frente ao hotel, na zona onde estava o carro.

O restaurante D.Sancho fica num edifício já velho, o r/chão estava ocupado com um café, o restaurante era no 1º andar. Subimos as escadas, eu tinha mais sede do que fome, entramos na sala de jantar, sala pequena com uma dezena de mesas, até o empregado era às dimensões da sala, pequeno. Pouca gente estava a jantar aquela hora, pedimos a lista e duas cervejas, enquanto nos decidíamos sobre o que comer, vieram as cervejas, estavam espectaculares, bem frescas, num instante desapareceu do copo.

Para comer, comi truta “ a la plancha” o Miranda foi no salmão também “a la plancha” , para quem não sabe o que é “ a la plancha” rapidamente fica a saber que não traz nada a acompanhar, para superar essa lacuna pedimos uma salada mista, tinha alface, tomate, pepino que não gosto e outras coisas que nem sei o que é. Veio mais cerveja para acompanhar, já não estava tão fresca como a primeira, essa sim estava mesmo boa. Para sobremesa, pedimos uma tarte com alcoól, o homem quase virava a garrafa de J.B. nos nossos pratos. Era uma gajo porreiro.

O jantar já tinha ido, pagamos e despedimo-nos do empregado, era um tipo porreiro, levou uma gorjeta porreira. Descemos as escadas e fomos dar uma volta por ali, penso que era o centro. Como em todas as terras espanholas o espanhol convive muito na rua, desde os miúdos ao da terceira idade, anda por ali de tudo, nós é que estávamos um pouco cansados. As esplanadas estavam cheias, alguns dos bares tinham um ambiente louco. Não consigo compreender como um meio tão pequeno tem tanta coisa boa, tive pena de não encontrar as duas raparigas que encontramos quando chegamos a Aranda.

Estava a ficar tarde, fomos para o hotel, na recepção estava um homem já de idade avançada, pedi a chave do quarto 412, como sempre falo em Português, a única diferença é que falo de uma forma mais pausada para eles perceberem, o homem percebeu 402, eu só me apercebi quando cheguei ao quarto e a chave não dava. Voltei à recepção e soletrei 4 1 2, finalmente percebeu, voltei a subir, felizmente o hotel tinha elevador. Após uma escovadela aos dentes, deitei-me, ainda estive a ver um pouco de televisão, depois, bom, depois foi dormir para descansar, o próximo dia prometia ser longo e cheio de emoções.

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