quarta-feira, 11 de março de 2009

Serra da Estrela


4 de Janeiro de 1997. Dia da minha primeira viagem deste ano. Tinha ficado combinado, o Fernando passar por minha casa por volta das 7 menos 20 da manhã. Quando faltavam 15 minutos para as 7h. o meu pai veio acordar-me, dizendo que estavam a chamar por mim na rua, estava atrasadíssimo. Como no dia anterior tive o aniversário do Miguel, deitei-me relativamente tarde, depois marquei no despertador as 6 horas, tinha muito tempo, só que me esqueci de activar o despertador.

Tomei um banho muito rápido, quase que foi só molhar o corpo, pelo menos tinha tudo arranjado, rapidamente saí de casa, mas sem antes o meu pai me aconselhar a ter juízo e muito cuidado.

Quando chegamos a casa do Zé em Gueifães, já lá estavam todos. Partimos logo de seguida.

Ainda era noite quando partimos, ao passar na ponte de Arrábida ainda deu para admirar uma vez mais o rio Douro e parte da cidade do Porto.

Abandonamos a auto estrada na saída para Aveiro, entramos na IP5, é uma estrada que eu não gosto e é perigosa.

Já levávamos alguns km. na IP5 quando começamos a avistar neve, mas antes disso vimos tudo coberto com geada, a estrada estava perigosa, nalgumas zonas o piso estava muito escorregadio, mas com cuidado passamos. Junto á saída para Sever do Vouga, estava tudo branco, já tinha muita neve por aqui. Do lado esquerdo da estrada avistávamos umas montanhas ao longe completamente brancas, não sei que zona seria aquela.

Antes de chegar a Viseu vi uma raposa morta na berma da estrada, estava intacta, provavelmente foi atropelada por algum carro. Não muito longe dali estava um cão, este devia estar ali á já algum tempo visto que estava congelado.

Já bem perto de Viseu paramos num posto de abastecimento, procuramos correntes para a neve, não havia nada, continuamos a viagem.

Bem próximo das 9horas, saímos da IP5, saída para Mangualde. Logo após a saída tem um hipermercado, o Intermarché, fomos até lá para comprar pão e procurar correntes para a neve. Correntes para a neve não havia, compramos pão e uma garrafa de espumante Italiano.

Continuamos o caminho que nos levaria até á Serra.

Durante o caminho fomos comendo pão com bolinhos de bacalhau feitos pela mulher do António, para acompanhar foi o espumante. Em Mangualde voltamos a parar, fui a uma casa de ferragens, claro que ia procurar correntes para a neve, como anteriormente não tinha nem a rapariga que me atendeu tão pouco me sabia dizer onde podia encontrar.

Estalou uma pequena discussão quanto ao caminho que deveríamos seguir, o Fernando tinha planeado ir até Gouveia, o Adélio propunha outro caminho, felizmente venceu o Fernando, é que eu também queria passar por Gouveia. Durante o percurso que liga Mangualde a Gouveia, ao passar junto ás aldeias, quando o Fernando se cruzava com algum transeunte, buzinava e acenava com o braço, a grande maioria também acenava, estava a ser animada a viagem, decidimos também fazer uma pescaria conjunta quando abrir a época.

Chegamos a Gouveia ainda o ponteiro do relógio não tinha chegado ás 10horas. Fomos até ao centro, paramos junto ao edifício dos bombeiros, o António foi perguntar a um bombeiro onde se poderiam comprar as desejadas correntes para a neve, o bombeiro indicou uma casa de acessórios de automóveis bem próximo dali. Fomos até ao local indicado, na montra tinha um pneu com correntes, pensamos que desta vez resolvíamos o caso, puro engano. Após uma breve espera porque tinha outra pessoa a ser atendida, o homem disse o que não queríamos ouvir, as correntes que ele tinha não serviam para a carrinha , aquelas eram “R13” e para a carrinha tinha de ser “R14”. Segundo o que ele disse se tivesse “R14” na véspera tinha vendido imenso. O preço também era mais elevado em relação ao Porto, por aqui elas custam 12.000$00, lá 13.000$00 , sempre são mais mil escudos. Demos mais uma voltinha por Gouveia a tentar mais locais. O Adélio entrou num café a perguntar, primeiro indicaram a casa onde tínhamos estado, depois indicaram outra casa que não encontramos. Decidimos partir para a aventura sem correntes, iríamos até onde fosse possível, apesar do cenário não ser nada agradável, a maioria das estradas estavam cortadas. Entretanto fui tirando algumas fotos.

Já eram 10horas quando partimos em direcção a Folgosinho, apesar de ser cedo. Passamos por uma aldeia de seu nome Nabais, andavam a apanhar a azeitona. Um pouco á frente tem o desvio para Folgosinho, a placa indicava 6 Km até lá. A estrada passa pelo meio de um pinhal que tinha imensas árvores partidas, ao que parece cederam ao peso da neve. Paramos junto a um pequeno riacho , água limpinha a que por ali corria. Segundo uma senhora de idade em tempos houve por ali trutas, mas acabou tudo. É impressionante como vive ali aquela gente, uma casa muito pequena , construída em pedra, com o frio que fazia devia ser terrível viver ali. De verão deve ser agradável mas de inverno … .

Chegamos a Folgosinho quando o ponteiro do relógio tinha acabado de passar pelas 11horas. A aldeia é muito pequena mas engraçada. Os telhados estavam brancos , cheios de neve, muita dela já estava a derreter, estava sol naquela altura. Existe por lá uma casa que tem na parede exterior uns painéis em azulejo com algumas quadras, são cerca de 8 painéis, fotografei todos, um a um. Existe também uma fonte, que de um dos lados tem uma placa em azulejo que diz “ Água e mulher só se for boa”.

O restaurante Adriano, que julgo ser o único na aldeia, fica no largo do Viriato, ainda fizemos uma pequena espera para almoçar. Um pouco antes do meio dia fomos para o restaurante, tínhamos mesa marcada. Tem pelo menos 3 salas, ficamos na mais pequena mas acolhedora. Enquanto esperávamos fomos dar uma espreitadela ás outras salas e aproveitei para tirar mais uma foto ao grupo.

Este restaurante tem a particularidade de se poder comer de todos os pratos, beber , sobremesa e café por 1.600$00. Nós pedimos de tudo excepto cabidela de coelho.

Primeiro veio o pão e chouriça assada, não gostei muito da chouriça, de seguida veio leitão e batatas fritas, estava bom o molho é que era demasiado picante, obrigava a beber mais. O vinho era um maduro branco bem bom. Após o leitão veio para a mesa algo que eu nunca tinha comido, javali, não comi muito , não porque não fosse bom, mas porque era servido com feijão. Ainda havia muito para comer e como o feijão “enche” muito, não comi. Veio mais javali mas desta vez com batata frita, já comi um bocado, vitela assada, também comi um pouco e por fim veio o cabrito, o qual comi um pouco. Estava tudo muito bom, acabei por comer muito , de tal forma que já não comi sobremesa. Para terminar fomos todos num café, no meu juntaram um pouco de uma bebida qualquer, não sei o que era, bebi.

Passavam 10 minutos das 13horas, quando abandonamos o restaurante, demos uma volta pela aldeia, subimos a uma torre que nos permitiu ver a aldeia e todas aquelas terras circundantes, isto de um lado do outro víamos montanhas brancas, parece que tinham sido cobertas com chantili.

Partimos para o coração da serra, não sabíamos até onde poderíamos ir, fomos andando. Antes de chegarmos a Gouveia paramos num local que vende queijos da serra, Fonte dos Namorados é como se chama a loja, comprei um queijo com 1,5kg. Paguei 3.000$00. Eram 13h30m. Voltamos a passar em Gouveia, a partir daí foi sempre a subir, poucos km. depois de Gouveia começou a aparecer neve na estrada, dava para andar só que com cuidado, grande parte da neve que existia na estrada estava a derreter, o maior problema residia nos locais onde não dava sol.

Chegamos a um dos locais que eu mais gosto da serra da estrela, as Penhas Douradas, é uma zona arborizada e é o local onde nasce o rio Mondego. Por aqui tinha imensa neve , as árvores estavam carregadas, muitas delas quase partiam tal o peso da neve. A cor predominante era o branco, nunca tinha visto esta zona assim, geralmente vejo imensa neve mas as árvores costumam estar limpinhas, desta vez até as árvores estavam brancas. Tudo era demasiado belo. Paramos algumas vezes, mas nenhuma paragem excedeu um minuto, era só o tempo necessário para ver o estado da neve e porque pretendíamos chegar o mais longe possível. Começou a descida para Manteigas, fica em pleno coração da serra , o cenário continuava belo, não me recordo de ver tanta neve.

Manteigas estava como toda a serra coberta de branco, era um espectáculo. Não paramos em Manteigas, iniciamos a subida para o maciço central, logo nos apercebemos que seria quase impossível chegar lá acima. Fomos até onde a neve permitia, ainda assim passamos por zonas em que o piso estava muito perigoso devido ao gelo que existia na estrada.

Faltavam uns míseros 3km. para chegarmos á nave quando tivemos que parar e voltar para trás, era

impossível continuar. Havia muita neve na estrada, sem correntes era impossível transitar com a estrada naquele estado. Voltamos a Manteigas, não paramos, voltamos a subir para as Penhas Douradas, já o ponteiro do relógio caminhava para as 16horas, mais um pouco caía a noite.

Durante o caminho aproveitei para tirar mais fotos.

Chegados ás Penhas Douradas, paramos, era a hora de nos divertirmos um pouco na neve. Com uns plásticos deslizávamos bem na neve, sentados ou deitados nos plásticos, aí íamos nós, passamos por momentos hilariantes com algumas quedas á mistura. Já era noite quando acabou a brincadeira, 17h15m. mais precisamente. A roupa estava molhada e carregada de neve, era hora de mudar de roupa, eu só pude tirar a camisola, o resto também não era preciso, a camisola é que estava cheia de neve.

Estava no fim a nossa visita á serra, era hora de iniciar o regresso a casa.

Partimos para Gouveia, todas aquelas montanhas que tinha visto cobertas de branco não se viam nesta altura, era tudo preto.

Todo este quadro preto estava manchado com pequenos grupos de pintas amarelas, é nestas ocasiões que penso o quanto deve ser difícil viver na serra nesta altura do ano, existem muitas povoações mas distantes umas das outras.

Voltamos a passar em Gouveia já eram 18 horas, paramos á saída da cidade para abastecer o carro, se andasse a água … .

Partimos logo de seguida, não tínhamos mais nenhuma paragem prevista até chegarmos a casa.

O transito na IP5 não era muito mas o que havia complicava um pouco. Alguns não andavam nem deixavam andar quem queria. O piso nalgumas zonas também já começava a ficar um pouco perigoso. O dia esteve bom, derreteu muita neve junto á estrada, mas com o cair da noite e com a baixa da temperatura a água nalguns locais começou a gelar o que tornava o piso extremamente perigoso.

Para colmatar um pouco a “seca” que é viajar durante a noite o Fernando começou a contar algumas anedotas, algumas com piada outras nem por isso, de qualquer forma sempre ajuda a passar o tempo e anima o ambiente.

Cada vez estávamos mais próximos de casa.

Chegamos á auto estrada, pelo menos prevíamos que acabavam os nossos problemas com os que não deixam andar quem quer.

Para termos combustível até chegar a casa não passamos dos 120km hora, o que além de ser o máximo permitido por lei para transitar na auto estrada já dá para andar bem.

O corpo começava a dizer que também precisava de alguma coisa para se entreter, daí que no posto de abastecimento e repouso de Antuã fizemos uma paragem. O Zé é que não queria nada de tal forma que nem saiu do carro, o resto do pessoal foi todo comer qualquer coisa.

Para o meu corpo se calar comi um croissant com fiambre e dois donut´s, a acompanhar uma Pepsi Diet. Após este ligeira e rápida refeição , iniciamos a nossa derradeira etapa.

Ainda na auto estrada e ainda um pouco distantes do Porto, passou por nós um carrinho baixinho e bonitinho, a marca é uma “insignificância” é só Porsche. Ele quando passou por nós o nosso até abanou.

A velocidade a que ele ia era mais que muita, inclusivamente foi tema para uma ligeira discussão entre os ocupantes do nosso humilde veículo. Para alguns o Porsche ia a mais de duzentos para outros não. Claro que cada um ficou na sua, não era possível esclarecer a nossa dúvida com o condutor do dito carro porque na ocasião já nem o avistávamos. A partir desta altura tudo o que alguém dizia os outros para contrair punham em causa a veracidade do que era dito, era só para contrariar, mas animou o resto da viagem.

Ás 20h47m. chegamos á portagem dos Carvalhos, estávamos bem próximo de casa. A partir desta zona aumenta significativamente o volume de tráfego.

Meia hora depois estava em casa, a noite estava fria, ás 21h30m. is dar o jogo entre o F.C. Porto / Guimarães, previa um jogo complicado para as minhas cores. Ao entrar em casa o João Pedro ficou espantado a olhar para mim, eu tinha o chapéu de tirolês. Arrumei as coisas, pouco tinha para arrumar. Estava terminada a minha primeira viagem de 1997, foi de um dia só mas foi bom. Espero pela próxima. Algumas coisas foram decididas durante este passeio, uma a de tirar licença de pesca, a outra é bem mais complicada, é tirar o curso de paraquedismo. Vamos ver se tenho coragem.



Foto de autoria de Jupp

1 comentário:

  1. Deve ter sido magnifico. juntamente com o tinto, que aquece.. bom..
    Pela foto deveria estar muito bonito..
    São as Terras de Portugal que também tem o seu encanto...

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