terça-feira, 10 de março de 2009

S. Marta de Penaguião - Vindimas 96


5 de Outubro de 1996, feriado nacional.

Estava combinado este fim de semana ser passado em terras do Douro. É a altura das vindimas.

Desta vez o roteiro previamente delineado previa uma ida a Bragança, local nunca visitado por mim.

Bem cedo o Fernando passou por minha casa, eram 6h20m. já estávamos com um ligeiro atraso em relação á hora prevista, a culpa era toda minha, acordei um pouco tarde.

Tínhamos que passar por casa do Adélio e de seguida por casa do António Augusto , lá é que seria o local da concentração e partida.

Logo que chegou o resto do pessoal, partimos de imediato. A ideia de partir de casa do António surgiu porque apanhávamos a via rápida até á auto estrada, mas nada disso aconteceu porque a mulher do António tinha feito uns bolinhos de bacalhau, vai daí o Adélio disse que tinha um vinho muito bom em casa e queria passar por lá para levar umas garrafas, assim aconteceu.

Como era cedo e o transito diminuto decidimos não ir pela auto estrada,

fomos pela estrada nacional que até não é má.

Bolinhos de bacalhau já nós tínhamos, vinho também , faltava o sempre admirável pão. Depois de passarmos em Penafiel e antes de chegarmos ao desvio para o Marco de Canaveses paramos junto a uma padaria, fomos comprar pão fresquinho ou melhor quentinho. Logo ali comemos um pouco de pão, mas não passou disso, tínhamos que continuar a viagem rumo a Bragança , estava previsto mas não iria acontecer. Tudo porque o Fernando , como sempre sugere os locais a visitar, sugeriu outros locais que não contemplavam Bragança. Falou em locais que foi necessário consultar no Mapa, todos desconheciam. Como sempre nestas ocasiões o pessoal aceita O Local que não sofreu alteração quanto ao nosso programa foi as Fisgas, íamos lá por minha causa, já todos eles conheciam o dito local, eu é que não. A minha curiosidade era imensa, todos falavam maravilhas do local, eu queria ver in loco tal maravilha. Dificilmente ficaria maravilhado, porque maravilhas tinha eu visto na minha recente visita a S. Miguel, mas estava receptivo a tudo.

Passamos em Amarante, foi mesmo passar porque nem paramos, aí entramos na IP4.

Antes de chegarmos a Vila Real saímos da IP4, de referir que a paisagem que nos é dada a contemplar é bela, belo é também o caminho até ás Fisgas. Durante um pouco a estrada é embelezada com castanheiros de ambos os lados.

Passamos por locais onde muita gente andava ocupada nas vindimas.

9h15m estava eu finalmente nas Fisgas.

Estava eu em pleno Parque Natural do Alvão. Os incêndios também aqui tinham feito estragos. Lamentavelmente existia uma grande mancha amarela, estava tudo queimado. Paramos num sitio , do qual se pode observar uma queda de água, no inverno com um caudal superior deve ser bem mais bonito do que agora. O local onde nos encontrávamos é demasiado alto para me aproximar da beira de forma a observar o leito do rio.

Decidimos que era hora de comer alguma coisa, devoramos os bolinhos que o António tinha levado, comemos pão e bebemos vinho!, aquela hora da manhã eu a beber vinho, parece impossível mas é verdade, também foi pouco.

Quem não gozou em pleno este ligeiro repasto foi o Fernando, andava preocupado com a carrinha, um pouco antes tínhamos observado que estava a perder um liquido um pouco viscoso, as opiniões eram variadas, desde que seria água até que poderia ser óleo dos travões. Ficamos na incerteza.

Ficou decidido que não iríamos a Bragança, a proposta foi feita pelo Fernando, proposta aceite . O Fernando propunha outros locais que segundo ele também tinham interesse e sempre ficavam mais perto do que Bragança.

Partimos, íamos para Vila Real mas um pouco preocupados com o estado “clínico” da carrinha, não sabíamos a origem da água que estava a verter.

Andamos á procura de uma estrada nova, dizia o Fernando, que vai para Vila Real, estava difícil encontrar a dita. Esta zona é bonita e muito calma, não se via ninguém, nem mesmo nas casas. Eram aproximadamente 10horas, talvez as pessoas estivessem a trabalhar nos campos, apesar de ser feriado e também era altura das vindimas. Chegamos a uma aldeia, passamos por uma mulher que aparentava ter cerca de 3 dezenas de anos e tinha mais barba do que eu. Perguntamos pela estrada que andávamos á procura , ficamos a saber que já lá tínhamos passado bem perto. Voltamos para trás, quando apanhávamos uma zona de subida o ponteiro da temperatura disparava rapidamente para níveis alarmantes, pelo menos veio dar indicações que o liquido que estava a sair não seria óleo dos travões, tudo indicava ser água.

Para chegarmos á tal estrada “nova”, tivemos que abandonar a estrada em que seguíamos e entrar numa que mais parecia um caminho de cabras, á entrada dessa estrada tinha uma placa com a indicação de Pioledo. Lá fomos nós, da estrada nova nem sinal. Um pouco mais á frente existia um caminho bem largo, para o que era usual na zona, mas em terra batida, era a tão falada e procurada estrada nova. Passamos por aldeias que parecem estar num outro tempo, estão completamente afastadas da “civilização”.

Uma dessas aldeias tem um nome no mínimo curioso, pelo menos para mim, chama-se Lamas de Olo, é uma aldeia muito pequena, um detalhe ao qual o António Augusto me chamou a atenção foi o facto de na paragem da camioneta, julgo que seria para tal, o interior estava “revestido” com caixas do correio, todo o habitante da aldeia tinha ali a sua.

Adoro andar por este tipo de locais, são coisas que não vejo diariamente e tudo isto quebra a rotina que é a nossa vida diária.

Pouco tempo depois chegamos a Vila Real, não fazia a mínima ideia do caminho que iríamos seguir, mas rapidamente fiquei esclarecido. A estrada conhecia eu, era onde se efectuavam as corridas em Vila Real. Continuamos em direcção ao Pinhão, bem juntinho ao Douro. Nesta estrada existem duas casas feias e com uma história no mínimo curiosa. Dois homens que na sua luta pela vida, decidiram procurar ganhar um pouco mais num país que não o nosso, nos seus regressos esporádicos á sua terra natal, para darem mostras que lá fora é que se ganha dinheiro, foram construindo a sua humilde casinha, aí é que começaram os problemas. Como cada um queria mostrar ao outro que tinha um poder económico superior ao vizinho foram construindo, daí que aquelas casas para bem dos olhos de quem por lá passa deveriam ser demolidas. Quanto mais perto estávamos do Pinhão, mais aumentava a azáfama das vindimas. A paisagem é conhecida por todos, é um postal ilustrado. As íngremes encostas, todas cheias de “degraus”, com imensas vinhas. Afinal estava eu em pleno centro de produção de uma vinho que tem o nome da invicta cidade.

De Vila Real até ao Pinhão foi sempre a descer, agora seria sempre a subir, íamos a Moncorvo, era lá que íamos almoçar.

Passamos em S. João da Pesqueira eram 12h00 em ponto, paramos num posto de abastecimento para meter mais água na carrinha, enquanto o Fernando metia água eu fiquei na carrinha, o resto do pessoal foi beber qualquer coisa. Antes de chegarmos a Moncorvo passamos num local que em pouco tempo passou do anonimato para o estrelato, Vila Nova de Foz Côa, nem paramos foi mesmo sempre a andar, a fome começava a dar sinais.

Chegados a Moncorvo fomos almoçar. O restaurante Lagar, assim se chama, fica bem próximo da igreja, só tem um sala, enorme por sinal e com aspecto antigo. Deu para perceber que é um restaurante frequentado por caçadores, inclusivamente o empregado estava convencido que também eramos, mas não, pelo menos por enquanto.

Os dois pratos mais conhecidos no restaurante são, a posta á Lagar e a costoleta á Lagar. É impossível sair de lá com fome, a posta é um grande bocado de carne, não cabe toda no prato, a costoleta é igual, deu para comer bem e não foi tudo, sobrou muita coisa.

Eu também não estava nos melhores dias, de tal forma que nem vinho bebi.

Após tal refeição partimos sem eu saber exactamente para onde.

A carrinha parecia ter estabilizado, o ambiente entre o pessoal estava animado, a tarde prometia.

Fomos até um local que penso ser Vila Flor, fica para os lados de Mirandela, já lá tinha estado com o Miranda a Teresa e a Paula.

Quando chegamos a Vila Flor, fomos a uma casa onde uma senhora de uma idade respeitável faz pão caseiro, tinha 6 compramos tudo. São enormes, cada um fica a duzentos escudos. Do que eu comprei comi um pequeno bocado, foi mais para ver se era mesmo bom. Quem sugeriu a compra foi o Adélio, parece que ele costuma passar férias no parque de campismo. Parque de campismo que fica numa zona muito sossegada e bonita, tem um mini zoológico só com algumas aves e alguns veados.

Fomos ao bar que se situa em frente ao parque beber alguma coisa, bebi uma cerveja mas não me soube bem, decididamente não era dos meus melhores dias. Partimos novamente sem saber para onde. Passei em locais que reconheci, e só lá tinha passado uma vez.

Entramos numa estrada que desce de uma forma assustadora, vai até ao rio Douro, pelos vistos os ciclistas na Volta a Portugal passam por ali mas a subir, não é para todos.

Chegamos a barragem da Baleira, tinha as comportas fechadas, um barco com turistas ao que indicava ingleses, aproximou-se das comportas, aquilo é que é vida, bons passeios.

O tempo começava a escassear.

Se muito tínhamos descido, agora muito tínhamos para subir. Bem lá em cima , com uma magnifica vista sobre o Douro, fica uma localidade que se chama S. Salvador do Mundo. É um local cheio de minúsculas capelas, “batemos” a zona, é um ponto turístico.

Tirei algumas fotos, são recordações, muitas vezes de locais que nunca mais visitámos.

O relógio já andava pelas 17h40m., estava na hora de partir para a Régua, depois de tantos Km. tínhamos jogo ás 20h.

Voltamos a passar em locais onde já tínhamos passado neste mesmo dia, passamos em S. João da Pesqueira e no Pinhão.

Chegamos á Régua ainda um pouco cedo para a hora marcada, de tal forma que fomos a um café junto á marginal, uns bolos e umas cervejas, eram as calorias para aguentar o jogo.

Começaram a surgir dúvidas quanto ao facto de passarmos lá a noite ou vir para casa, prevaleceu o que tinha ficado previamente combinado, ou seja dormir lá e regressar no dia seguinte. Mas a “discussão” sobre se lá ficávamos fez mossa.

Chegou a hora do jogo, a vontade de jogar não existia

O jogo foi no pavilhão da Régua, é muito grande para as nossas pernas aguentarem o ritmo imposto por eles, no entanto resistimos bem, apesar do resultado final nos ter sido desfavorável por um simples 4 - 1 .

No fim do jogo fomos jantar, o restaurante escolhido foi em S. Marta de Penaguião, a empregadaque nos serviu era bem mais apetitosa que o jantar, julgo eu pois não a provei.

Depois do jantar o ambiente fica um pouco mais caloroso, nalguns casos é o efeito do maduro, mas coisas sem grande significado. Estava na hora do café para quem o toma. A sala de jantar era no primeiro andar, descemos para o café, com tanta malta para tomar café, gerou-se uma pequena confusão com a quantidade de cafés.

Após o café, alguns dos locais foram para casa, outros foram connosco até um outro café. É um café agradável, bem decorado e até o nome é sugestivo, Porto Douro, tem também uma sala de jogos embora fique separada do café. Fomos para lá, estivemos por lá um bom bocado, nada joguei, também não tenho habilidade para jogar bilhar, como tal fiquei a ver e a mandar algumas bocas.

Começava a chegar a hora de dormir. Eu o António, o Rui e o Zé fomos

para casa dos pais do Domingos, o Fernando e o Adélio foram para casa dos pais do Fernando.

Os dois últimos como não dormiam na nossa casa emprestada por uma noite, foram embora, ficamos os quatro. A vontade de dormir era pouca, daí que estivemos naquele que foi o meu quarto e o do Rui a jogar á moedinha, comer do meu pão e a beber “7 UP”. Estivemos nesta brincadeira um bom bocado de tal forma que nem sei a que horas acabou .

Domingo 6 de Outubro de 1996.

A noite foi demasiado curta, bem cedo comecei a ouvir o pessoal das vindimas no campo, mas o sono era mais forte do que eu. O António veio ao quarto acordar-nos. O primeiro a levantar foi o Rui eu estava á procura da coragem. Mas tinha de ser, após o Rui ter saído da casa de banho lá fui eu.

Já passava das 9horas quando o grupo de reuniu. Descemos até Santa Marta para tomar o pequeno almoço, comi dois bolos e bebi um sumo, no fim paguei

a conta de todos, é costume de vez em quando alguém pagar a conta, desta vez decidi ser eu.

O movimento de tractores começou a aumentar, vinham carregados com uvas para a Adega Cooperativa, inclusivamente o Domingos também já lá tinha um dos dele.

Voltamos a subir para Sanhoane, íamos vindimar. Arranjaram umas tesouras e baldes e começamos a nossa vindima. Andamos numa vinha de bardos, julgo ser assim que se chama aquele tipo de vinha. Tinha uvas muito boas, talvez venha a dar um bom tinto, uvas brancas por ali não tinha quase nada. Rapidamente limpamos aqueles bardos, depois tínhamos uma pequena ramada , mas aí já era preciso escada, quem andou a fazer esse bocado foi o Adélio. Demorou mais esse bocado de ramada do que os bardos, a brincadeira também aumentou.

Estava na hora do almoço, almoço que foi em casa do pai do Domingos.

Não foi a primeira vez que lá almocei, a comida é saborosa. A cozinha é das antigas, também cozinham a lenha, o que torna a comida muito mais saborosa. Comi bem e também bebi bem, o vinho era da propriedade, não tinha misturas era puro sumo de uva.

Almoçar com o pai do Domingos é sinónimo de boa disposição. Quando ele começa a contar episódios da vida dele, muitas vezes dá azo a uma gargalhada geral, são momentos hilariantes aqueles, com isso um almoço demora á vontade umas duas horas ou mais.

Terminado a almoço nada mais tínhamos a fazer por ali, começávamos a pensar no regresso a casa. Começava a chegar ao fim um fim de semana diferente.

No regresso a casa viemos pela Régua e depois viemos a Mesão Frio e Amarante, aqui fizemos como de costume uma paragem, curta, partimos em direcção a casa, não voltamos a parar, pese embora alguns queriam fazer uma paragem num café, só que nem todos serviam, daí que quando nos apercebemos estávamos em casa. É o eterno problema de começar a escolher o local, nunca dá certo.

Estava terminada esta viagem ás vindimas no Douro, têm algumas particularidades, deu para ver “ao vivo e em directo”, mas não é nenhuma brincadeira andar com os cestos nas costas. A mim nada custou, só vi.

1 comentário:

  1. muito tintol!
    Claro a bola depois pesa, pois pesa....
    Belas vindimas...sim , senhor

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